epístola aos pais
o vosso filho morreu. tinha tantos anos como J. morreu. está morto. concedo-vos, para réplica, estas breves palavras. J morreu a meu lado, em mim, na minha carne. olhei-o todos os momentos deste encontro breve. a nossa paixão luminosa incendiou os lençois que lhe servem de mortalha para enterramento. cruzamos pela primeira vez os olhares num espelho picado pela velhice numa wc da capital. J era doce e triste. J foi o outro lado do espelho. nessa noite fomos a carne um do outro e não trocamos palavras. sorriu. como sorriria em todas as noites seguintes no reflexo noturno da janela. J foi a felicidade enamorada do desespero e da renúncia a ser. J morreu. perdi-o como se perde a pele num verão impróprio de ardor e vida. devagar.
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